Estrela Fascinante Patrine – Uma delicada heroína no meio de tantos machões que exaltam testosterona. (por Rodrigo Paula dos Santos, vulgo, Pato Donald)
Hoje quero falar de um assunto pertinente! Quero falar da “famigerada”
série Bishoujo Kamen Powatrin (ou Estrela Fascinante Patrine, como ficou conhecida
aqui no Brasil). Para alguns, a série é famigerada sem as aspas. Mas, é pra
tanto? Perguntem para qualquer pessoa sobre a série. Possíveis respostas que
vocês vão ouvir sobre a série: “A série é tosca!”; “Essa série NEM deveria ser
chamada de toku!”; “Essa série estragou a vinda de tokus de VERDADE para o
Brasil!”; “É uma série muito nonsense e cheio de falhas!”; entre outras
variantes dessas frases. Mas, é pra tanto?
Um pouco sobre Patrine. A série original se chama, como já falei,
Bishoujo Kamen Powatrin (Traduzindo ao pé da letra, Bela Mascarada Powatrin,
que quer dizer seios em francês). Uma criação do mestre Ishinomori para o ano
de 1990. E, acreditem, Patrine foi um dos xodós do mestre. Ele tinha um imenso
carinho pela série. O objetivo dele era de caráter experimental. Era fazer uma
série de 28 episódios para o público feminino de 4 a 8 anos. Afinal, esse
público estava praticamente esquecido da mídia japonesa. Vocês sabem qual foi o
resultado? Um sucesso estrondoso! Uma estética simples, com um visual simples,
mas caprichado, uma história que, em alguns casos, beira ao lado banal, mas,
que cativa e efeitos especiais simples, onde não se tem lutas elaboradas, pois
para Patrine, o que contava era o intelecto, e não a força bruta. Por isso, não
esperem dela uma Pink Flash ou uma Gosei Yellow ou até mesmo uma Time Pink,
pois a heroína da série NÃO foi feita para isso. E sem falar nos tipos de
vilões que ela enfrentava, que beiravam aos tipos caricatos, do mesmo moldes dos
vilões do Batman do seriado homônimo da década de 60. Mesmo com esses ingredientes que podiam levar
a série ao fracasso, o que vimos foi o inverso. A série se tornou ultra
popular. A Toei vendeu horrores de bugigangas relacionadas à série. Por causa
disso, tiveram que esticarem a série em dobro, praticamente. Patrine, que teria
SÓ 28 episódios, foi para 52 (!). :O . Colocaram um vilão fixo (Diabolo) e
ainda tinha os secundários. A trama abusava do humor pastelão, mas, que
agradava as meninas JAPONESAS de 4 a 8 anos da época.
Mas, como Patrine foi recebida no Brasil? Bem... Japão é Japão...
Brasil é Brasil... o que pode ter dado certo na terra do Sol Nascente pode não
ter dado certo para os tupiniquins. Patrine chegou numa época em que os tokus
já estavam estagnados na TV brasileira, no caso, o ano de 1993. Foi anunciada
como a substituta da apresentadora Angélica, que saiu da emissora naquele ano.
O slogan de chamada era mais ou menos assim: “Vem aí, a nova rainha dos
baixinhos....”, e foi com essa frase que Patrine estréia nas manhãs da
Manchete, no programa Dudalegria. Como falei, ela chegou não numa boa fase para
os tokus. Primeiro, o gênero já estava saturado. Segundo, desde 1987, o público
PRINCIPAL dos tokus eram os meninos (não to dizendo que tinha meninas que
assistiam, mas, a vasta maioria eram meninos que assistiam as séries). De 1987
até 1993, se passaram 6 anos. Meninos que tinham 7 anos em 87 já estavam com 13
em 93, ou seja, no primeiro ano da adolescência. Eles já estavam acostumados
com lutas sangrentas, combates com forte carga dramática, trilha sonora
empolgante e vilões sérios. Aí, de repente, chega uma série onde não se tem
super-poderes, efeitos especiais mirabolantes, monstros pavorosos, roteiro
poderoso que te prende, mas o inverso, onde se apelam para a comédia pastelão,
vilões caricatos que não possuem respeito, enfim, todo o inverso do que as
pessoas estavam acostumadas a ver. O resultado disso tudo? Fracasso de
audiência e falta de interesse dos telespectadores. A série, infelizmente, foi tão mal recepcionada
que a série não foi nem dublada por completa. Muitas pessoas viraram o nariz
para a mesma. A falta de uma heroína “sexy” com as de super-sentais e de heróis
que exalam testosterona como os heróis nas outras séries fizeram o povo ter uma
certa repulsa para a série. Mas, é para tanto? Bem... estou um ancião de tanto
dizer que tokus são feitos por japoneses para crianças japonesas. E que nós,
brasileiros, assistimos de penetras. Somos de um jeito e os japoneses são de
outro. Patrine é uma série tão “tosca” que, de tanto ser “tosca” a faz ser uma
série legal. Nós nunca vamos conseguir engolir até hoje o porquê de um vilão
empanar brinquedos, o porquê de uma divindade shintoísta tirar férias na Itália
numa Ferrari com uma loura ou um vilão
roubar os cadernos das crianças para resolver as lições de casa e devolvê-los
resolvidos. Mas, essas ilógicas fazem a série ter seu charme e ser um atrativo
a mais. Patrine provou que não precisa ter uma heroína sexy, ter lógica,
explosões mirabolantes, vilões e monstros pavorosos, mas sim, um carisma e uma
simplicidade estética e moral que convencem. Patrine quebrou todos os
paradigmas do conceito de se fazer tokus. E o resultado foi um sucesso
estrondoso no seu país de origem. Por mais que MUITOS que se dizem “toku-fãs” aqui
no Brasil digam que Patrine “nem deveria ser chamada ou mencionada no mundo
toku”, a série não é de se jogar fora. Ela é excepcional. Merece ser vista e
revista. Ela conseguiu suprir o seu objetivo: divertir as meninas de 4 a 8 anos
no Japão e seu sucesso foi tanto que inspirou na criação de animes de sucesso
como Wedding Peach e Sailor Moon (cujos autores reconhecerem que se inspiraram
nessa série para criarem suas heroínas), teve um “remake” e ainda por cima
aparece num dos filmes Taizen. E, na minha opinião, Patrine possui uma das
melhores trilhas sonoras que já vi num toku, perdendo apenas para Fuun Lion
Maru (tanto nas BGMs como nas OSTs). Se você engolir seu preconceito para uma
série para meninas de 4 a 8 anos, vai ver em Patrine um TOKU (sim, querendo ou
não, Patrine é um TOKU) que vai te dar horas de lazer e uma diversão saudável
que move a nossa mente para uma infância simples e inocente. XD.
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