Poucas são as obras que tiveram o poder de me fazer
emocionar como Tokyo Magnitude 8.0. E sabe qual é o motivo? Não é preciso ter grandes
poderes, monstros, alienígenas, ou pancadaria para que uma obra seja
considerada excelente e ensinar importantes valores. Existem muitas coisas
simples que deixamos de lado e pela comodidade que temos hoje em dia tudo
parece não ter muita importância, como o relacionamento em família e os amigos
que sempre estão do nosso lado.
O tema do anime trata sobre terremotos (veremos que não é só
isso). Os terremotos são difíceis de prever, mesmo com toda a tecnologia
disponível de hoje em dia. Quando acontecem, em questão de segundos, deixam um
rastro de destruição, derivando enorme prejuízo financeiro e vítimas humanas.
Por ano ocorrem cerca de 300 mil tremores em todo o planeta
e muitos deles não são percebidos, sendo que esses fenômenos ocorrem em
diferentes intensidades e intervalos de tempo. Por exemplo, na China, no ano de
1976, ocorreu um tremor com duração de 14 segundos, deixando a cidade de
Tangshan totalmente destruída com mais de 200 mil pessoas mortas. Esse
terremoto foi de 8,2 na escala Ritcher. Se fizermos uma breve busca na internet
vamos encontrar muitos grandes desastres. E quantas vidas se foram, quantas
possibilidades de construir algo bom. Mas estamos mesmo fadados a passar por
momentos assim. Até aqui no Brasil já foram registrados pequenos tremores, nada
comparados a outros que ocorreram em outras partes do mundo. A localização do
Japão no nosso globo é totalmente relevante para que tipos assim de desastres
naturais ocorram.
O anime foi escrito por Natsuko Takahashi e dirigido por
Masaki Tachibana e foi ao ar de 09 de julho a 17 de setembro de 2009 pela TV
Fuji. Dois detalhes: não sei se chega a ser macabro, mas menos de dois anos
depois, em março de 2011 um forte terremoto de magnitude 8.9 arrasou a costa
nordeste do Japão, sendo considerado o pior tremor já registrado na história do
país e o sétimo de todos os tempos. As imagens da destruição mostravam carros e
casas sendo arrastados como se fossem de brinquedo pelas ondas gigantes,
causando pavor nos telespectadores.
O outro detalhe foi que na abertura de cada episódio, aparecem
algumas frases dizendo que a série continha hipóteses sobre as possíveis conseqüências
de um grande terremoto atingir Tóquio e que para aumentar a sensação de
realidade, muitos testes foram realizados para a elaboração do anime, porém, se
algo semelhante realmente acontecesse, os fatos poderiam ser bastante
diferentes. Que coisa não? Mas o que mais impressiona é que apesar do tema
inicial, o anime não fica somente focado em tragédias. A história é
completamente dramática e os personagens são muito carismáticos.
Mirai Onozawa é uma adolescente, muito da mal humorada por
sinal, que estuda em uma boa escola, tem excelentes colegas e uma ótima família.
Pense em uma pessoa chata e rabugenta... Essa é Mirai. Seu irmão mais novo,
Yukki, tem entre sete e oitos anos e estuda a terceira série e tem um fascínio
enorme por robôs. É um garoto cheio de vida, sorridente, que vive fazendo
amizades e aprecia tudo de bom que a vida lhe proporciona. Mirai não gosta do
jeito bobo e inocente de Yukki, ficando sempre o repreendendo, além de brigar
constantemente com seus pais. As férias escolares estão chegando e Yukki deseja
ir até uma feira de robótica, que fica em Odaíba. Mirai não está confortável
com isso e não deseja de maneira alguma ir para essa feira de nerds. Mas convencida
por sua mãe, parte para lá junto com seu irmão.
Após um passeio no prédio do evento, Mirai deixa seu irmão
sozinho e vai até a ponte e é aqui que a coisa começa a ficar diferente. Um
violentíssimo terremoto sacode a cidade em questão de pouco tempo. Tudo que era
belo e bonito se despedaça com enorme facilidade. As pontes balançam, o asfalto
se abre, pessoas caem, há muito barulho e confusão. Desesperada e atordoada por
essa situação Mirai busca Yukki pelos escombros do edifício recebendo auxílio de
Mari, uma entregadora que deixou sua família ( mãe e filha) em uma região duramente castigada por
incêndios.Mari é fundamental na trama, pois consegue unir os dois irmãos agindo
como uma verdadeira mãe, enquanto seu coração fica apertado pensando no destino
da sua pequena filha. Com muito esforço, Yukki é encontrado e agora os três vão
ter que lidar para passarem por duras provas até voltarem para suas casas. A
primeira coisa que prometem uns aos outros é que jamais vão se separar. Essa
regra é quebrada algumas vezes, levando a momentos muito tensos.
Não há sinal de telefone e tudo ao redor está destroçado.
Algumas vezes, mais tremores acontecem, resultando em incêndios, acidentes e
tsunamis. A poderosa Torre de Tóquio desaba, matando muita gente. A impressão
que passa é de total desespero, enquanto as autoridades buscam ajudar a
população da melhor forma, e os noticiários de TV informam os danos causados. O
que me causou muito espanto, por assim dizer, foi à maneira como as autoridades
deram um rápido socorro para aqueles que estavam desabrigados, fornecendo
alimento, abrigo e remédios, além de contarem com máquinas específicas para retirarem
escombros. Não sei se aqui no Brasil estaríamos preparados para enfrentar algo
assim, visto que nossos hospitais não oferecem o menor conforto para os
doentes. Existem muitas pessoas desaparecidas, além dos muitos corpos que não
foram identificados. Muitas pessoas não tinham como achar seus entes queridos e
mesmo para Mari, pensar que os seus pais estavam mortos lhe trazia um enorme
desconforto. Yukki sempre dizia que queria muito voltar para casa, abraçar os
pais, passear com toda a família. Mari não quer passar uma imagem triste para
as crianças, mas está extremamente receosa quanto ao destino da sua mãe e
filha. Mas sua calma e bom senso se tornam peças chaves para que as crianças
não desistam.
Para superar essa dificuldade, Yukki e Mirai se aproximam
mais e mais, estreitam seu relacionamento. Relutante e algumas vezes irritada
pela atitude gentil e doce de Yukki, Mirai muitas vezes descarrega suas
frustrações com palavras muito ásperas, o que é incompreensível para o
garotinho. Mas ele não desiste de seu sonho. Ele ama robôs, gosta de pintar
sapos e antes de saírem de casa havia feito um presentinho que seria dado à mãe
como lembrança de aniversário...
Aos poucos vamos compreendo o motivo de Mirai ser tão
fria...na verdade, ela queria um pouco mais de atenção e carinho de seus pais
que sempre estavam correndo para trabalhar. Mas, por essas e outras razões,
Yukki oferece conforto e sempre sorri para aliviar as aflições de sua irmã.
Mirai aos poucos evolui como pessoa, em meio ao caos que
reina ao redor dela. E com tudo que ocorre ao redor, ela consegue controlar
seus sentimentos mais profundos e começa a acreditar na volta para casa. Yukki
também se sente pressionado sentimentalmente até que desaba em determinado
momento em intensas lágrimas.
Existem pessoas que dizem que são necessárias grandes
desgraças ou tragédias para que as pessoas possam se unir, inclusive a família.
E foi esse ponto que mais me chamou a atenção em Tokyo Magnitude 8.0. O ser
humano cresce em dificuldades, renasce.
Posso dizer apenas que o anime possui onze episódios e que
do sétimo para frente fica humanamente impossível não chorar. Mas não falo
derramar uma lágrima ou outra, é chorar mesmo. Acontece algo inesperado e tudo
se torna incrivelmente intenso e tocante. Os diálogos se tornam mais profundos
e cheios de emoção, lembranças vem à tona e aos poucos aquilo que era
considerado trivial e sem importância, o relacionamento familiar, ganha uma
dimensão imensa, se torna na verdade a coisa mais importante. Eu, por exemplo,
não consegui não me envolver com a trama e com os personagens e a intensidade
com que tudo se desenrola. Confesso que me emocionei, chorando de uma maneira
que eu não imaginaria.
Resumindo tudo, esse anime é ótimo, possui um bom traço e cenários
muito bem trabalhados. Envolvem sentimentos, os mais profundos que temos. Amor,
amizade, carinho, confiança, ternura, esperança, amizade e drama. Tudo isso
ligado ao que é o tema central, faz uma combinação forte e perfeita.
Eu recomendo que assista esse anime assim que a oportunidade
lhe aparecer. Não hesite. E tente não chorar.
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