domingo, 3 de agosto de 2014

Vitrola - Noriko Ogawa "Sono Toki" (1989)

Como parte da grande safra de Pop Idols japonesas da segunda metade dos anos 80, Noriko Ogawa é uma cantora que se preocupou menos com os ideais libertários de sua época e mais com o aperfeiçoamento da sensualidade doce de sua imagem. "Sono Toki" parece ter sido o álbum que melhor lhe deu condições para explorar isso. O LP é um veículo eficiente para que ela busque pela manutenção de sua doçura, porém sem nunca abrir mão de espaço para improvisações melódicas e meios de soltar a voz, à exemplo de várias outras de sua geração.
"Yume Boshifu" é a melhor faixa do disco. 

Construída num esquema simples de três seções_ onde a primeira é introdutória, enquanto a segunda desenvolve e conduz à seguinte, um refrão que só por abrigar o clímax já demonstra mais valor do que as anteriores_, a faixa se destaca principalmente pelo modo como cabe na memória e se projeta através dela. Mas quem fica conhecendo todo o conteúdo do álbum não terá dúvidas que "Natsu Irono Tenshi" é, de fato, a mais indicada para abri-lo. Ao mesmo tempo que inspira certa inocência, a música (no vídeo logo abaixo) faz o ouvinte se sentir à vontade para seguir em frente, até com certa curiosidade pelo que virá após aquilo. E "Suna no Page", a continuação, não decepciona, nem um pouco_ muito pelo contrário! As primeiras notas instrumentais soam intrigantes e, embora antecipem boa parte do jogo tonal que ouviremos até o fim da canção, soam também misteriosas. Pelo lado de Noriko, a graça fica com a forte dissonância que ela aplica, sem rodeios, ao completar a primeira estrofe do refrão, que de tão súbita é capaz de surpreender-nos. Trechos desta "Suna no Page" voltam à mente muito mais tarde, com "Wishper Dance"_ ainda que essa seja muito menos interessante, pois sua rítmica rígida, meio bossa-nova, impede por diversas vezes que a cantora tenha maiores liberdades.
Das grandes surpresas deste álbum, vale reparar na sequência das faixas 6 e 7_ sequência essa que também poderíamos chamar de "bloco romântico". Com "Otoki (Hitohira)", Noriko apela inesperadamente para o tradicional, com uma melodia-base fugada e densa. Ao mesmo tempo que a aproxima da Música Enka, isso também a distancia do estilo Pop já consolidado nela, e até de sua própria época (no caso, 1989). Ou seja, de certa forma "Otoki" representa um retrocesso, mas, pelo que se verá adiante, acaba se revelando fundamental.

Com "Ore Ga Saigo no Hohoemi", Noriko volta a um romantismo leve e cheio de frescor, próprio de seu tempo, e estabelece uma deliciosa contradição para si mesma. Algo que, no fim das contas, fica valendo muito para demonstrar a capacidade de diversificação da cantora_ muito intensa neste caso, dada a diferença de estilos. Com muita boa vontade, podemos escutar uma fusão desses mesmos estilos tão diferentes_ Enka/tradicional e romântico dos anos 80/contemporâneo_ em "Hateshinai Monogatari" trilha que encerra o LP. Nessa música, o contemporâneo surge através da movimentação melódica, da busca por notas prolongadas que culminam em dissonâncias e da liberdade inusitada com a declamação de Noriko nos instantes finais, por cima do instrumental. Já os aspectos típicos do tradicional se fazem perceber principalmente na intensidade lírica. Boa parte dessa canção soa como viesse de um sonho distante e, talvez até por isso, escapa fácil da memória_ sendo, portanto, de difícil acesso. A compreensão de "Hateshinai Monogatari" passa a depender de uma conquista por parte de quem a ouve, que só ocorre com o tempo, após muitas e muitas investidas.

O álbum está disponível para download no blog JPop80ss.

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