Neste segundo semestre do ano, estou tendo contato com o trabalho das mais variadas artistas do universo J-Pop dos anos 80. Dentre todas, Chieri Ito é uma das mais recém-chegadas aos meis ouvidos, mas que mesmo assim vem se firmando entre as minhas favoritas de uma forma surpreendente.
No dia de hoje, ela é quem mais tem chances de postular logo atrás das "três intocáveis" do meu ranking de preferência (Yuka Onishi, Yui Asaka e Yuma Nakamura). Foi bastante grande o impacto que senti ao experimentar, inicialmente, seu single de estreia "Paradise Walker" (1987). A canção principal é extremamente segura, firme em seus propósitos e que sugere não menos que um ano de prática musical para uma cantora que, na realidade, estava começando a seguir seus passos. Tão marcante quanto isso é a coerência profunda que existe entre a faixa-tema e a presente no lado B, "Diner". Mantendo exatamente a mesma energia de espírito, "Diner" soa como uma continuação estritamente intercalada à "Paradise"_ algo raríssimo mesmo em singles, pois o único em que ouvi coisa semelhante, até hoje, foi "Rakuen no Door", da Yoko Minamino.
As duas canções presentes no single "Tokimeki ga Itakute" trazem em comum uma amostra infalível da qualidade que há na voz de Chieri_ potente na projeção, constante na manutenção e endossada por backings melhor distribuídos (e menos americanizados) que em "Paradise Walker". "Friendship", a faixa que ocupa o lado B do single, é uma música de ares otimistas que ajuda a comprovar essa boa distribuição dos vocais de apoio_ decisivos em certos momentos, como nas respirações e nas passagens de bloco. Já "Tokimeki" (no vídeo mais abaixo) é o tipo de música romântica "forte", que rejeita sombras melodramáticas e nunca se deixa consumir por ideias sentimentais. Por tudo isso, é uma canção quase visionária, pois muitos desses valores seriam usados constantemente em exemplares importantes do romantismo pop da década seguinte.
Do ponto de vista da composição, vale notar como "Tokimeki" se desenvolve com simplicidade, usando principalmente a palavra "heartbreak" como ponto de apoio. Na realidade, todo o desenvolvimento dessa música é bastante convencional pois não há grandes surpresas nas transições de tonalidade. O que realmente agrade em "Tokimeki" é a eficácia de sua regularidade_ algo que, sem dúvida, só ocorre por causa do excelente uso das habilidades de Chieri, combinadas ao apoio irrestrito de uma bateria com pegada forte e um sax marcante e oportunista.
Ainda que pareça ousadia de minha parte, eu acredito que, se não dispusesse de todos esses valores organizadamente, "Tokimeki" seria apenas uma canção previsível ao extremo e_ quase que infalivelmente_ fadada ao fracasso. Toda a minha imaginação não parece suficiente para mim imaginá-la numa interpretação de outra artista qualquer. Isso porque a entrega que Chiemi faz de si para projetar essa canção já faz de "Tokimeki" sua propriedade restrita_ e suficiente para que de "música problemática" ela se destaque como um de meus singles favoritos.
Nosso emocional agradece.
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