quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Androginia – como isso afeta a cultura moderna no Japão?

Fala cambada, dessa vez, o texto fodaçaralho do Rodrigo Paula, falando sobre uma tendencia que temos no tokusatsu no século XXI, a Androginia. Nos animes também temos representantes assim, mas chega de papo e bora com o texto.

Analisem as duas fotos abaixo(no caso, a foto a cima). Qual a diferença de um para outro? Muitos vão dizer: “Ah... o Tsuruji tem jeito de HOMEM... tem voz e postura de HOMEM... se veste como HOMEM... já o outro.. ish... é mais delicadA que uma barbie, usa brilho lábial e parece um emo viadinho... não tem postura de HOMEM... não exala testosterona como HOMEM... não bate como HOMEM...”... enfim... os mesmos discursinhos recheados de preconceito e falta de conhecimento sobre o assunto.


Para falarmos sobre essa matéria, precisamos entender o que é Androginia. Acho que esse termo apareceu depois que a vasta maioria conheceu os cavaleiros de Andrômeda, Lagarto e Peixes na animação Cavaleiros do Zodíaco em 1994 e 1995. Ao olharmos esses três cavaleiros, vemos ali personagens com voz, atitudes e postura de homens, mas a aparência.... olhando de relance... os três se passariam por mulheres facilmente. E é isso que se chama de Androginia. É quando um ser possui características masculinas e femininas numa única pessoa. E isso pode acontecer nos dois sexos. Por exemplo, pessoas famosas que demonstraram androginia num certo período de suas vidas foram Michael Jackson, Tammy Gretchen e Leonardo Di Caprio (inclusive, eu já vi muitas entrevistas de Leo onde ele dizia que, na juventude, as pessoas o confundiam com mulher...). Apesar da aparência do sexo oposto, uma pessoa Andrógina possui as características do seu sexo de nascimento. Ou seja, biologicamente falando, a pessoa pode ter a aparência do sexo oposto, mas, mantém suas faculdades reprodutivas do seu sexo ativas. Raramente, uma pessoa que é andrógina tende para o lado homossexual (nas minhas pesquisas, a Tammy Gretchen foi a primeira...). Dado isso, tende-se a pressupor que os andróginos sejam invariavelmente homossexuais ou bissexuais, o que não é verdade, uma vez que a androginia ou é um caráter do comportamento e da aparência individual de uma pessoa ou mesmo sua condição sexual psicológica, nada tendo a ver com a orientação sexual (ou identificação sexual), ou seja a atração erótica por determinado parceiro. Desse modo, pessoas andróginas podem se identificar como homossexuais, heterossexuais, bissexuais, assexuais, ou, ainda, pansexuais. 



O termo Androginia vem do grego Andro (masculino) e Gynio (feminino). Androgynio foi um personagem da mitologia grega que foi castigado pelos deuses, que o acharam forte o suficiente para destroná-los. Eles fizeram uma junção de gêneros dentro de um corpo, para confundir o personagem. E foi daí que surgiu o nosso termo androginia.



Agora vem a parte mais intrigante: onde a androginia afeta a cultura oriental? Vamos tentar entender uma coisa. Uma pessoa andrógina não precisa ser necessariamente homossexual. Um homem pode ter aparência de mulher, mas comportamento e atitude de homem (o personagem Mime de Benetnasch é um andrógino, mas, que mantém características masculinas no seu comportamento). E uma mulher pode ter a aparência de homem, mas comportamento e atitude de mulher (a personagem King, da série TKOF e AoF é uma andrógina, inclusive, a personagem foi apresentada como HOMEM na série de jogos AoF, mas, o discursante foi corrigido na tribuna. Ela mantém características femininas nos jogos).



Ou seja, dos anos de 94 até os dias de hoje, o conceito e a aceitação de pessoas andróginas na mídia oriental cresceu assustadoramente. Não só no Japão, mas, nas Coréias e China, a androginia é vista como certa normalidade. É errado isso? Claro que não! Devemos ter em mente uma coisa: o que serve pro Ocidente pode não servir para o Oriente e vice-cersa. Vou lhes dar um exemplo: na China, eles comem aranhas e escorpiões e fazem isso como rotina no cardápio deles. Vocês comeriam uma perna de aranha sequer? Eu, particularmente, passaria longe (principalmente eu, que tenho Aracnofobia). Mas na China, eles acham isso super normal. Vou lhes dar um outro exemplo. Existe um país-ilha na Ásia chamado Sri Lanka. Eu vi uma matéria no SBT Repórter alguns anos atrás sobre esse país. Sabem de que é feito um dos doces nacionais desse país? Acertou quem falou que é feito de FRANGO. Aqui, o frango é usado como prato principal do almoço de domingo. No Sri Lanka, ele é usado para fazer doce. Podemos ter dificuldade de aceitar tal fato. É verdade (eu, por exemplo, admito que também não comeria um doce feito de frango, mas...)! 



Mas, eu pergunto: é errado comer aranhas e doces de carne de frango? Claro que não! Sabem por quê? Porque isso faz parte da CULTURA desses países. Não podemos chegar lá no Sri Lanka e OBRIGAR o povo de lá a comer brigadeiro só porque NÓS não comemos doce de frango. E isso não se aplica só a comida desses países. 



É agora que eu quero chegar na matéria. Como lhes falei, a Androginia cresceu assustadoramente no Oriente e o melhor (ou pior... dependendo do ponto de vista...), sua aceitação pelo povo e a cultura de lá foi bem rápida. A mídia aposta em atores e cantores com aparência andrógina, visto que isso agita a multidão desses países e agita os bolsos dos empresários. A aposta dos mesmos em homens com rosto bonito (e aparência delicada) é garantia de retorno financeiro e gera lucros incalculáveis. 



Agora eu lhes pergunto: como isso afetou as nossas amadas séries tokus? Bem... estamos carecas de saber que, a geração de crianças e adolescentes dos anos 60, 80 e 2000 são bem diferentes entre si. E isso afetou o gosto das mesmas para música, filmes, livros e... séries. Uma criança dos anos 2000 não vai dar valor a uma brincadeira das crianças dos anos 80 e as dos anos 80 não vão dar valor as brincadeiras das crianças dos anos 2000. E isso acontece também aos ídolos. Pergunte para uma jovem de 15 anos se ela prefere escutar Elvis Presley, que a avó dela escutava quando tinha 15 anos, do que Justin Bieber. É claro que a guria vai dar primazia para o Justin (triste realidade, mas...). Sabem por quê? Já falei e repito: as gerações são outras. Não podemos OBRIGAR a geração atual a aceitar os ídolos da NOSSA juventude. E, principalmente, as da geração de jovens japoneses. 



Visto que a geração jovem japonesa curte homens andróginos, vocês acham que a Toei, sedenta de dinheiro, vai deixar de investir em tais atores bonitos, que podem lhes dar lucros incalculáveis no seu país de origem, para satisfazer o ego de “fãs” que são MINORIA num país onde tais séries NÃO geram mais lucros? Resposta óbvia, né? Como lhes falei, no Japão, um homem andrógino é sinal de virilidade e masculinidade no Japão. Para os japoneses, homens com aparência feminina é o VERDADEIRO sinal de que “exala testosterona” lá. Outra pergunta: vocês acham que os Japoneses têm a OBRIGAÇÃO de mudar a CULTURA deles para satisfazer os nossos egos PRECONCEITUOSOS? 



Uma coisa que QUALQUER toku-fã precisa ter em mente é o seguinte: Tokus NÃO são obras de arte, como nós, brasileiros, vemos. Tokus são MÁQUINAS de gerar dinheiro. São caças-níqueis. É assim que os japoneses consideram as nossas amadas séries. O que eles puderem fazer para ganhar dinheiro, eles vão fazer. Se uma série não dá um retorno considerável, ela é cortada, mesmo ela tendo uma boa história (vide o “famigerado” Metalder, que, no Japão, foi um fracasso de audiência e de vendas de brinquedos, mesmo tendo uma história que nos agrada). Se a Toei acha que atores com aparências delicadas vão dar retorno, claro que eles vão investir. Nós, brasileiros, podemos xingar, espernear, gritar, fazer manha, mas, isso não vai mudar. Às vezes, se nós vencermos o preconceito, podemos enxergar um herói valoroso num rapaz de aparência delicada do mesmo modo que vimos nos heróis das séries antigas. Eu, por exemplo, achei o tão criticado (pela sua aparência) Alata de Goseiger um herói digno e honrado. Eu ainda não vi Gokaiger, mas, já vi gente falando que o andrógino Joe (Gokai Blue) foi considerado um dos MELHORES Blues de toda a história dos super sentais. No dia em que o brasileiro engolir o preconceito e a sua visão egoísta de ver o mundo, querendo impor os nossos gostos e a nossa cultura pra cima da cultura de outra nação, aí sim, seremos um povo melhor. Até lá, não vejo uma razão válida para darmos vazão ao nosso preconceito sobre séries atuais justamente porque os atores atuais são apenas... bonitos demais.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente. Não dá pra julgar herói por aparência, ainda mais com esse ponto perdurando nas séries atuais. Eu já me acostumei, por isso nem ligo, mas a maioria do pessoal tem que aprender que nada vai mudar por causa deles, e sim por conta da galera de lá. Tô é com expectativa pra Tokkyuger, nem ligo se o Raito (Tokkyu 1) parece menina ou sei lá o que. Se for que nem o Alata, já tá ótimo.

    (P.S.: O Joe é sim um dos melhores Blues da atualidade, mandou muito bem em Gokaiger -fala quem viu todos os episódios, filmes e adjacentes...)

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