segunda-feira, 30 de junho de 2014

Vitrola - Yuka Onishi "Resistance" (1989)

"Resistance", de 1989, mostra uma face até então pouco exposta da música da Yuchi. Uma Yuchi roqueira, mas que em nenhum momento se esquece ter atingido os 20 anos de idade. O disco é rock do começo ao fim. Ao longo de sua duração, desfila sobre quase todos os estilos derivados_ exceto o hardcore. A base rítmica também é praticamente a mesma em todas as faixas, coisa que pode ser monótona para alguns, mas que garante um sentido de unidade muito grande. O motivo disso, no meu modo de ver, é que a Yuchi estava buscando fazer algo que repetisse o impacto do maior de todos os sucessos de sua carreira_ o hit "Take a Chance" (1987), cuja estrutura era idêntica à destas faixas de "Resistance".
E ela chega bem perto disso com "Midnight TV", música que, se não alcançou a projeção esperada, certamente foi por causa da sombra de maturidade que paira sobre ela ("Resistance" foi lançado poucos no mesmo ano que "Bridge", o álbum em que Yuchi já busca pela música da década seguinte). Potencial a faixa tem de sobra, a se notar pelo refrão, acessível aos ouvidos e à memória. Em "Midnight TV" (no vídeo abaixo, apesar de amador e com qualidade sofrível), Yuchi também aplica um efeito vocal surpreendente: ela conclui boa parte das faixas desfazendo a voz, como que em suspiros meio sufocados. Isso caiu muito bem principalmente na transição do primeiro para o segundo bloco da canção, mas não perde o valor quando reutilizado mais à frente, até pelo clima sensual que garante (tanto que eu sempre penso mais na Yuchi "mulher" do que "cantora" quando ouço essas passagens, rs!).


Vale notar também como o material da introdução de "Shouganai Yo Ne" é reconstruído na seção central (passando do gótico ao pop-rock), ou como a agressividade é mantida nas linhas até daquela que é a única faixa mais romântica do álbum ("Ima Mo Anata O"). Notem ainda a pegada progressiva de "Lou No Naiyami", com seus vocais envolventes e criativos (♫ "Fire in eyes..." ♫), e em como "Through The Rainbow" despeja reminiscências harmônicas na posterior "Kaze No Mama Ni (Let It Blow)". Sem falar na ousadia de "Slow Down", que interrompe descaradamente belas frases melódicas em prol das dissonâncias (praticamente invertidas!) em que acredita.


Já a 13ª e última faixa, "Mascarade", é minha favorita desse álbum. É o tipo de música que eu sempre paro tudo para dar aquela atenção especial quando escuto. Flertando com o punk-rock, "Mascarade" usa também o eletrônico com bastante autoridade. Ele surge aqui tanto mixando e "modificando" a voz natural da Yuchi como turbinando a instrumentação. O que mais me comove aqui, no entanto, é o desenvolvimento. A melodia segue adiante sempre apostando na melhor sequência possível de acordes, algo digno das melhores e mais impecáveis composições. Na hora de se cantar, até o sotaque japonês-inglês ajuda. Como 'masukareido", é uma canção que sempre figura entre as minhas favoritas_ e ao mesmo tempo ajuda a explicar meu amor pela Yuchi.
Mesmo sem nunca ter lançado um álbum arrasador de cabo a rabo (como uma Yui Asaka), nem ter sido abençoada com a projeção de uma Akina Nakamori, nem deixado um legado do tamanho de uma Seiko Matsuda, ela é sempre Yuchi. Mais ainda na hora de exibir um sucesso isolado que valha tanto ou mais que tudo isso_ como "Resistance" faz questão de esclarecer.

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