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sexta-feira, 7 de março de 2014

Batman Burton VS Batman Nolan: como proceder?


Bem, vivemos em uma época diferente do que foi há 70 anos. Dos anos 40 pra cá, muita coisa mudou na mídia (música, cinema, literatura, dança, quadrinhos e etc...). Com a invenção de certos meios de entretenimento, como os LPs, os rádios, a TV colorida e os quadrinhos em si, podemos ampliar em muita coisa a nossa forma de entretenimento.


Mas, vamos falar de um personagem que foi criado ainda nos meados dos anos 30: Batman. Batman foi um personagem crido por Bob Kane e trouxe a história de um herói humano que teve seus pais assassinados quando ele era criança e foi criado pelo seu mordomo. À medida que ele cresce, seu senso de justiça cresce junto e ele jura transformar a sua cidade natal, Gotham City, lutando contra mal-feitores que querem transformar a cidade num antro. Para isso, Bruce usa a sua juventude viajando pelo mundo treinando e aperfeiçoando seu conhecimento e usa o seu maior medo para causar medo nos bandidos da cidade: o Morcego.

À medida que a fama do “Homem-morcego” cresce no submundo do crime, novos bandidos com certo grau de peculiaridades e excentricidades vão surgindo. Esses bandidos costumam usar suas determinadas habilidades para mexerem com o submundo do crime de Gotham.

Uma coisa que devemos entender é o seguinte: a história do “Morcegão”, que possui praticamente 80 anos de vida, no decorrer das décadas, tanto nos quadrinhos como nas diversas mídias, vem mudando de formato. Lógico que o Bruce Wayne dos anos 40 é bem diferente do Bruce dos anos 60, que é diferente dos anos 80 e, consequentemente, dos anos 2000. E essa evolução é claramente notável porque visa se adaptar a cada uma das gerações. Por isso, vimos tantos contrastes do herói nos anos 60, 80, 90 e 2000 (vou falar especificamente dessas décadas porque foram dessas décadas que surgiram os “batmans” no cinema).

No primeiro filme do Batman, já nos primórdios dos anos 60, o que vimos? Nós reparamos em algo mais leve, mais descontraído. O tom caricato estava presente tanto na parte do herói como dos vilões. Isso foi necessário, visto que os EUA, naquela época, estavam tentando ressuscitar o ideal do “american dream” de uma sociedade capitalista perfeita, iniciada nos anos 30, antes da queda da Bolsa de New York. Ou seja, embora houvesse exceções, a forma de entretenimento tinha ser algo leve, mais família. E com o Batman não foi diferente. O que vimos no Batman de Adam West foi um Batman bonachão, inteligente, com senso de humor, que usa o ilógico para desvendar os casos dos vilões. E não podemos negar que os vilões do filme (Mulher-gato, Pinguim, Coringa e Charada), naquela época, visavam serem mais caricatos e infantis possíveis para atenderem aquela demanda para a família estadunidense. Já com o seriado que se originou do filme, esses vilões, aliados a outros tipos non-senses, tiveram esse lado caricato explorado ao extremo. Alguns vilões desse seriado, como a Sereia, por exemplo, sofreram com a censura estadunidense, sendo cortados da série (no caso da Sereia, foi cortada dos quadrinhos nos anos 50 e no seriado dos anos 60 pelo fato da roupa da personagem ser curta demais para o padrão estadunidense da época e por exalar uma sensualidade forçosamente exagerada, sendo superior a da Mulher-gato, o que era inadequado para os padrões americanos para um entretenimento para a família estadunidense). O filme do Batman dos anos 60, por ser politicamente correto para a época, elevou a moral do personagem e seu sucesso foi se estendendo no decorrer da década 60, 70 e 80.

Chegando aos anos 80, a sociedade estadunidense muda. A juventude americana julga a rebeldia como chave para o sucesso. “Chega de sermos certinhos!” era praticamente o lema da sociedade americana. O tom soturno da década, impulsionados por músicas que incitavam a liberdade de expressão e a rebeldia (vide os exemplos de astros da época, como Michael Jackson, Cindy Lauper e Madonna, só como exemplos), levavam a juventude a ficarem mais “darks”. E Batman teve que se adaptar ao tom soturno que a juventude queria. Eu não cheguei a acompanhar os quadrinhos na década de 80, mas, os fãs mais fervorosos que entrevistei chegaram a falar que os quadrinhos do Morcegão eram extremamente violentos, os vilões praticamente perderam a característica de caricatura e ganharam certo grau de insanidade. Eles ficaram mais darks. No cinema, Tim Burton lançou o filme homônimo do Batman em 1989, tendo Michael Keaton como Bruce/Batman e Jack Nicholson como Coringa. O filme ainda apresentou características meio fantasiosas, mas, é inegável a presença de um tom mais escuro, mais sombrio e mais soturno comparado ao filme e ao seriado dos anos 60. A sensualidade estava ali, presente. De forma sútil, mas, estava. É inegável que o Coringa do Nicholson foi um dos personagens mais marcantes de toda a década. Ele deu insanidade ao personagem, ao mesmo tempo em que divertia. E isso foi um marco. A década de 80, para o Morcego, foi fechada com esse ato grandioso de Burton, que ganhou o Oscar de Melhor Direção de Arte por esse filme (e, se não me engano, foi indicado ao Oscar de Melhor Fotografia pelo filme. Me corrijam se eu estiver errado).

Já nos anos 90, retornamos a uma década mais “colorida”. Mas, colorida em termos. O Morcego mantém características da década de 80 (algo mais sombrio) em seus roteiros. Mas a estética dos quadrinhos (E nas outras mídias em que o Morcego é apresentado) fica mais colorida. Podemos ver isso no próximo filme do Morcego, ainda dirigido por Burton, em 1992. Ele mantém as características do Batman de 89 no roteiro. Mas a soturnidade e a escuridão da fotografia do primeiro filme foram substituídas por algo mais leve, mais colorido. Era mesclado em algo dark e algo clean. Tinha seus momentos de escuridão, mas tinha seus momentos de brilho. A sensualidade também estava presente. Eu me lembro de ter visto numa pesquisa no início dos anos 2000 que, segundo os estadunidenses, que uma das cenas mais sensuais do cinema americano no decorrer das décadas, estava em Batman Returns, onde a Mulher-gato deita o herói de bruços, senta na virilha dele e, sensualmente, lambe do queixo até a ponta do nariz do herói. Pelo que eu me lembro (não posso afirmar com clareza, pois se passaram mais de 12 anos), esse cena ficou em segundo lugar na preferência americana, perdendo apenas para umas das cenas entre Sharon Stone e Michael Douglas em Instinto Selvagem. Mas, voltando ao Returns, eu já li numa entrevista que, a história da origem da Gato nesse filme foi considerada a melhor versão para a origem dela, segundo o próprio criador dos personagens. Mas, o tom colorido do filme foi um prelúdio para o que estava por vir ainda nos anos 90. Schumacher resolve resgatar o tom fantasioso e colorido dos anos 50 e 60 em seus dois filmes. Lógico que a resposta do público, principalmente aos fãs fervorosos, que se acostumou com algo mais dark, foi negativa. Schumacher transformou o herói em motivo de chacota. Vilões antigamente respeitados, como Hera Venenosa e Duas-caras, perderam a essência e a seriedade de suas origens (cá entre nós, ver o Senhor Frio usando pantufas de ursinhos em plena década de 90 foi dose). Podemos concluir que esse retorno ao brilho e a fantasia exagerada não foi bem receptiva. Por causa disso, o cinema teve um bom hiato de lançamentos do Morcego. Isso até 2005 chegar com Nolan.

A década de 2000 é tida como realista demais. Vimos que situações do cotidiano, por mais simples que seja, é transportada para as diversas formas de mídia (novelas, seriados, filmes, músicas, livros, quadrinhos e etc...). Lógico que, a sociedade da década de 2000 é bem diferente da década de 80. Não abrimos mãos da fantasia, mas prezamos mais a realidade do que a fantasia em si. E o que Nolan mostrou em seus filmes do Morcego foi justamente isso: Realidade. Acabou-se o tom caricato dos vilões e do personagem. Bruce deixou de ser um certinho para viver a amargura do seu passado. Perseguição, máfia, gângsters, traficantes, assaltantes, terrorismo... Vimos tudo isso nos “Batmans” do Nolan. O tom caricato dos vilões praticamente sumiu. Eles passaram a usar roupas normais com alguns apetrechos para fazerem parte de seus personagens (vide o Espantalho, que usa terno e gravata e só coloca uma máscara para usar o seu gás do medo, mas, depois do efeito, retira a máscara). Eu ainda não vi o terceiro filme da trilogia, mas parece que a máscara da Gato do Nolan é muito mais que uma máscara de um felino. Tem toda uma tecnologia envolvida. E o Bane, pelo que andei pesquisando, é muito mais que um bandido truculento sem cérebro. É um terrorista perigoso e capcioso. Agora... O Coringa. Como lhes falei, Nolan optou por algo mais sério, menos caricato. E o Coringa do Nolan é bem diferente do Coringa do Burton. O que vimos em Nicholson foi um Coringa caricato, brincalhão, infantil, mas, interpretado de forma magistral pelo Nicholson. Já o Coringa de Ledger é mais insano, mais cruel e mais psicótico, retratando o personagem nos quadrinhos dos anos 80. Um personagem com um passado que é uma incógnita e que seduziu muita gente. O Coringa de Ledger fez com que o personagem brilhasse MAIS que o herói do filme.

O que podemos concluir com essas comparações? Que tudo muda! Tudo evoluiu. Eu, particularmente, dos filmes do Batman que eu assisti, o meu favorito é o Returns. Mas, não nego a importância dos filmes do Nolan na indústria cinematográfica. Nolan mudou o conceito de se fazer filmes de heróis de quadrinhos. Por causa dele, os heróis ganharam mais respeito até por aqueles que não são adeptos dos quadrinhos. Ele abriu a oportunidade de se fazer filmes de outros heróis com qualidade. Graças a Nolan, os heróis ganharam respeito no cinema. Mas, devemos desmerecer a qualidade dos outros filmes do Morcego? Não (se bem que, os famigerados filmes do Schumacher são altamente descartáveis, mas...)! Graças ao filme dos anos 60, a popularidade do herói cresceu! Graças a Burton, o herói ganhou respeito e muita gente conheceu o personagem! Acho que o conhecimento de muitos pelo herói Batman se deve ao filme de 1989, tendo o exímio e versátil Michael Keaton como Bruce/Batman e Jack Nicholson como Coringa. O que vejo nos filmes do Nolan é uma seriedade sem precedentes, que impõe respeito. E é inegável que os filmes do Nolan fez com que muitos se apaixonassem pelo universo do nosso Morcego e mergulhasse nele. Negar isso, com sinceridade, é sinal de insanidade. Ambos os filmes, tanto do Nolan como o do Burton, possuem suas peculiaridades, que atraem um determinado tipo de público. Mas, negar um e aceitar o outro e vice-versa é desnecessário, pois ambos os tipos de filmes possuem a sua importância na carreira do herói. 

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